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Estudos
Nesta seção, a equipe de Tênebra indicará estudos acadêmicos que tratam de obras, temas, autores e poéticas presentes em nossa biblioteca digital obscura. A cada quinzena, atualizaremos esta página com recomendações de livros, artigos e ensaios.


O fantástico naturalista-decadentista de Medeiros e Albuquerque
A variação entre tendências realistas e antirrealistas na literatura insólita é objeto de análise do artigo de Sabrina Baltor de Oliveira, publicado em dezembro de 2024 na Revista Abusões. A pesquisadora toma como corpus ficcional quatro contos de Mãe Tapuia (1900) e detalha as confluências entre naturalismo e decadência na obra. Durante a análise, observa como os textos de Medeiros e Albuquerque mesclam temas da ciência e do misticismo, com diversos elementos sobrenaturais. Além de ressaltar os escritos de um homem de letras que, apesar de bastante atuante em grupos literários brasileiros do final do século XIX, recebe pouca atenção de nossos contemporâneos, Baltor oferece mais evidências de como as poéticas naturalista e decadente se inserem num continuum, sem oposições totais.


As narrativas criminais na literatura brasileira
Dividida em dois grandes blocos, a tese de Pedro Sasse examina a fortuna crítica da narrativa criminal e apresenta um panorama desse subgênero na literatura brasileira, desde o século XIX até a contemporaneidade. O trabalho, defendido em 2019, demonstra como é redutor limitar a análise desse tipo de produção à tradicional figura do detetive, célebre no modelo de Sherlock Holmes. Com ampla bibliografia teórica e ficcional, o pesquisador aponta para três momentos-chave da crime fiction no Brasil: uma “era da navalha”, característica das letras oitocentistas, com destaque a romances de sensação e a biografias criminais; uma “era do revólver”, na qual se destacam o regionalismo urbano e o romance-reportagem; e uma “era do fuzil”, com espaço para histórias sobre nacrotraficantes.


Figurações do gótico e de seus desmembramentos na literatura brasileira - de 1843 a 1932
Defendida em 2007, a tese de Maurício Menon foi um dos primeiros trabalhos de fôlego a se dedicar à análise do Gótico na literatura brasileira, oferecendo um mapeamento de obras de interesse no acervo nacional. Dividido em seis capítulos, o trabalho examina a temática do medo na literatura ocidental; as origens do romance gótico no Reino Unido no século XVIII; os processos de canonização e obliteração das histórias literárias; a forma como a crítica avaliou esse tipo de produção em nossas letras; e, finalmente, algumas recorrências narrativas e estilísticas dos textos góticos no Brasil. As tabelas do pesquisador, com uma listagem de narrativas que dialogam com tal poética, foram e ainda são um importante ponto de partida para novos estudos.


Sentidos do demoníaco em José de Alencar
A poética gótica está presente na literatura brasileira desde as primeiras fases de nossa produção romanesca, como comprova a carreira de José de Alencar. Neste artigo, Sandra Vasconcelos examina de que maneira os traços do Gótico são explorados em duas narrativas do autor — O Tronco do Ipê (1871) e Til (1872). No início de sua análise, observando anúncios de livreiros em periódicos fluminenses, a pesquisadora destaca como os romances góticos ingleses já circulavam no Brasil nas primeiras décadas do século XIX. Essa recepção inicial teria ensejado a publicação de histórias misteriosas e de horror na imprensa nacional já nos anos 1830. Além do corpus literário mencionado, o trabalho comenta aspectos de outros textos alencarianos, como O Guarani (1857) e As Minas de Prata (1865-1866).


Álvares de Azevedo e a ambiguidade da orgia
No senso comum, quando se fala de literatura fantástica ou de terror nas letras brasileiras, Noite na Taverna (1855) é rapidamente citado como exemplo. Neste artigo, Karin Volobuef se debruça sobre a obra de Álvares de Azevedo para discutir a pertinência da noção de fantástico na compreensão da obra. Sua hipótese é de que os contos do volume não se baseiam em eventos sobrenaturais, mas sim em comportamentos negativos dos seres humanos, tais como crimes e perversões. Num primeiro momento, a professora explicita o diálogo das narrativas do brasileiro com o gótico inglês setecentista e com autores como E. T. A. Hoffmann e Byron. Em seguida, examina o aspecto metaficcional do livro, que reforçaria, em diferentes momentos, a ficcionalidade das histórias compartilhadas na taverna.


Sob o domínio do Rei Peste
As doenças constituíram uma das temáticas mais produtivas para a literatura de horror de diferentes países e épocas. Sem fugir à regra, a produção brasileira de meados do século XX conferiu particular importância a elas. É o que nos indica Alexander Meireles da Silva neste artigo, publicado em 2014, quando analisa a representação de epidemias diversas — como as de sifilis, febre amarela, varíola e hanseníase — na ficção nacional da Primeira República (1889-1930). O pesquisador revela como os recursos do gótico foram empregados por autores como João do Rio, Coelho Neto, Valdomiro Silveira, Monteiro Lobato e Hugo de Carvalho Ramos em narrativas que explicitam o impacto das moléstias sobre os habitantes das cidades e dos sertões.


As Artes do Mal: textos seminais
Em As Artes do Mal; textos seminais, volume organizado por Claudio Zanini, Júlio França e Oscar Nestarez, estão reunidas traduções de textos escritos em alemão, espanhol, francês e inglês por autores de nacionalidades distintas, cobrindo um intervalo de tempo que vai de 1588 a 1935. São reflexões feitas por filósofos, críticos e escritores a respeito de expressões como gótico, horror, grotesco e narrativas de crime, entre outras. Por sua característica painelista, esta antologia funciona não apenas como porta de entrada para quem deseje se iniciar nos estudos sobre as poéticas do mal, mas também como fonte de perene consulta para todos e todas que precisem retornar aos fundamentos deste fascinante campo de pesquisa.


Espacialidade gótica e horror em “Sem olhos”, de Machado de Assis
Os recursos narrativos do Gótico foram produtivos não apenas para autores pouco conhecidos da literatura brasileira, mas também para grandes nomes do nosso cânone. É o que nos revela Renata Philippov em seu artigo, publicado em 2018, sobre o conto “Sem olhos” (1876), de Machado de Assis. Na primeira seção do trabalho, a pesquisadora apresenta algumas definições da estética gótica, ressaltando a importância da construção de espacialidades sombrias para essa ficção. Em seguida, demonstra como o escritor fluminense se apropriou das técnicas góticas em seu texto, adaptando-as ao contexto local e valendo-se de estratégias de verossimilhança. Por fim, chama atenção para o título da história e destaca como a ironia machadiana também se faz presente nesse caso.


Do castelo à casa-grande: o “Gótico brasileiro”, em Gilberto Freyre
Neste artigo, Fernando Monteiro de Barros propõe a noção de Gótico brasileiro, que viria a ser bastante debatida em nossa área de estudos. A partir de uma comparação entre o castelo do gótico inglês, a plantation do Southern Gothic e o espaço da casa-grande arruinada, o professor defende que a tradição gótica explora o “aspecto fantamástico de uma estrutura social derrotada e antiga convivendo no cenário da modernidade”. Embora o estudo tenha como foco uma obra — Casa-grande & senzala (1933), do sociólogo Gilberto Freyre —, a descrição proposta é verificável em outros textos da produção nacional, que também exploraram o passado escravocrata e a velha estrutura social do país como fonte de terror.


A tradição feminina do Gótico
A tese de Ana Paula Araujo dos Santos tem o mérito de propor um modelo narrativo do Gótico feminino, indicando suas principais características formais e temáticas. Além de abarcar obras em língua inglesa, o corpus ficcional do trabalho é composto por contos, novelas e romances da literatura brasileira, como os textos de Ana Luísa de Azevedo Castro, Carolina Nabuco, Clarice Lispector, Emília Freitas, Júlia Lopes de Almeida, Lya Luft, Lygia Fagundes Telles e Mme Chrysanthème. Ao longo de três capítulos, o leitor acompanha as modificações dessa poética na escrita de autoras tanto do século XIX quanto do XX.


Poéticas do mal: a literatura de medo no Brasil (1830-1920)
Poéticas do mal: a literatura de medo no Brasil (1830-1920) é o resultado de mais de 10 anos de pesquisa dedicada à produção do medo na literatura brasileira — da violência social às manifestações de crenças e eventos sobrenaturais em nossa ficção. O livro propõe uma história panorâmica das variações históricas e geográficas da representação cultural do medo em nossa literatura e os processos responsáveis pela produção dos seus efeitos estéticos. Com uma primeira edição esgotada há anos, a Acaso Cultural recupera essa obra fundamental do estudo do medo na literatura brasileira em uma edição revisada e ampliada com glossário, linha temporal e um novíssimo projeto de arte.
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